Sabe quando a gente tem a sensação de que precisa encontrar
alguma coisa?
Procuro dentro da geladeira, nas paredes do quarto, nas
folhas em branco em cima da escrivaninha, no radio, na voz desafinada do
cantor, passo pela a garrafa de café, tomo uma xícara, duas, na terceira fico
olhando o café preto, a tênue fumaça saindo da xícara.
Procuro dentro dos livros, página por página, no maço de
cigarros, no filtro, no trago, na nuvem negra que invade a sala. Ligo a TV, os
cem canais... Procuro dentro do banheiro, na água da descarga que desce feito
um redemoinho, no espelho, na minha cara amarrotada.
Vou para a varanda, fico a observar os prédios ao longe...
Também não acho nada, de novo nos cigarros, outra vez na garrafa de café,
retorno às folhas em cima da escrivaninha, inútil.
Procuro na maçaneta da porta, nos botões do elevador, na
garagem, Tiro a chave do bolso, olho dentro do bolso, vejo apenas, linhas de
costura, farelos de sei lá o que. Reviro o porta luvas, procuro nas estradas
nos outdoors, no retrovisor.
Sento-me no banco de uma praça,crianças gritam,correm, tomam
sorvetes, os pássaros entoam um tímido
canto em meio ao barulho de carros e buzinas. O vento quente do asfalto sopra
os papeis jogados no chão, um panfleto de uma agência de turismo se prende em
meus pés. Pacotes de viajem para Bahia, salvador, praia, sol, sungas...
Começo a pensar no quanto o mundo é
grande, quantos lugares, pessoas, comidas exóticas, passarelas, torres, deuses,
montanhas, pôr do sol.
Quantas, florestas, frestas,
fechaduras, musicas, numerosos acordes, tantas cervejas, tantas boates,
tentações, violões, vulcões! Quantos teatros, peças, seitas, perigos,
segredos...
E diante de tanta vida eu me
pergunto: Como é que alguém ainda pode não encontrar um assunto?
Nenhum comentário:
Postar um comentário