quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Agora era Marquinhos

 Como pôde ter chegado aquele estado... Não sabia explicar, a casa revirada, sem vontade de arrumar, que diferença faria?

  Passou a mão sobre os livros jogados na mesa da sala, sempre isso... Livros, livros e livros, nada mais.

  Já havia se esquecido de como tudo era lá fora, não sabia o que encontraria do outro lado da porta. Via o sol através da janela e um arrepio de pavor lhe corria por todo o corpo, como seria aquela luz quente tocando seu corpo?  Ele tinha mesmo se esquecido? Não era possível...

  Nem mesmo a cara dos entregadores ele via, nem os olhava no rosto, eles chegavam, colocavam a entrega perto da porta, ele entregava o dinheiro ou passava o cartão na Cielo... Ah, os ócios da vida moderna...

  Não sabia mais, ao certo, como era o som de sua própria voz, fora os pedidos de compras pelo telefone, não conversava com ninguém, era jovem, doença não tinha, portanto não freqüentava nem hospitais.

  Havia, assim, aos poucos, sem perceber, deixado de sair de casa, ia negando um convite aqui, outro ali, atendia os telefonemas sem vontade, um dia parou de atender, depois o desligou o telefone por completo: Como as pessoas lhe incomodavam!

   Desempregado, recebia uma pensão da morte do seu pai, não era muito, mas dava para viver, afinal o velho tinha deixado... Bem, mas isso é outra historia...

  E se ele comprasse um cachorro?É isso! Talvez a vontade de sair de casa voltasse, com os latidos enlouquecedores ele teria que levar o cachorro pra fora, teria que levá-lo para passear e para  fazer mais essas coisas que os cachorros fazem...O que mais os cachorros fazem? Melhor esquecer, não seria justo com o cachorro.

  Desistiu do cachorro e pegou uma xícara de café, estava frio, jogou na pia.

  Pegou um livro sobre a mesa, mais um, sempre os livros, e sentou-se na poltrona, abriu na página onde estava o marcador ...

  Estava agora, andando calmamente por uma rua cercada por arvores, de mãos dadas com Maria Helena. Um vento fresco espalhava folhas secas por toda a parte, ah, Maria Helena, como era linda.  Ele se chamava Marcos de Alcântara, o Marquinhos. Os dois faziam juras de amor enquanto combinavam a viagem para França, empresário de renome Marquinhos viajaria a negócios, mas como não vivia sem a doce Leninha a levaria consigo... 

  Ali, estirado na poltrona da sala, segurando um romance barato, em meio á poeira e os copos sujos, ele sorria, e até arrumava os cabelos que o vento soprava. Agora, era Marquinhos. Amanhã... bem, amanhã é uma outra história.











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